segunda-feira, 14 de abril de 2014

0 Resenha: Bilhões e Bilhões, de Carl Sagan

Diante dos escritos condecorados de Carl Sagan, e pelo seu brilhantismo e apego ao uso do método científico, bem como sua militância em favor da difusão do ceticismo e divulgação científica em termos leigos, imbuído sempre de fascínio, poesia, e uma inebriante paixão pelo cosmos, este livro foi, para mim, como um encontro de aprendiz e mestre.

Bilhões e Bilhões rompe qualquer opinião parca que imputa à ciência a responsabilidade infame de reduzir as maravilhas e encantos da natureza. Quem se atreveria? A Ciência tem feito com que seus adeptos tenham acesso às informações que constituem toda a complexidade e magnitude que envolvem as constantes leis da física, biologia, química. Somos capazes de voar a alturas antes inimagináveis; mergulhar nos mais profundos e obscuros oceanos; conhecer a diversidade da vida, a estrutura de uma célula, a ingente anatomia de uma estrela. É impossível ler os livros do Sagan sem captar a cândida essência da percepção do universo assombroso que nos abriga. 

Em seus artigos, Carl Sagan exprime sua inquietante preocupação acerca dos problemas advindos da má administração da natureza, da displicência da nossa espécie e, sobretudo, da firme permanência nesses enganos intempestivos que, gradativamente, nos encaminha ao colapso global. A indiferença dos humanos aos seus semelhantes e seus absortos e frenéticos empreendimentos para a criação de armas termonucleares e bombas de hidrogênios por parte do governo norte-americano e russo, capazes de extirpar a nós mesmos, são problematizações trazidas pelo Sagan. Além disso, sua perícia meticulosa ao tratar de temáticas que só geram polêmicas desnecessárias, como o aborto, me fez observar eticamente quais as prescrições e questionamentos sustentam com maior coerência a ambivalência quase que impassível dos pró-escolha e pró-vida. 

Cada capítulo deste livro merece atenção especial e repetitiva. Não se deve abrir mão de uma leitura como esta. Meu senso de proporcionalidade foi expandido ao máximo graças à visibilidade cosmológica do Carl Sagan. Afinal, somos bilhões de bilhões de seres vivos, sozinhos num dos bilhões de bilhões de sistemas solares que integram bilhões de bilhões de galáxias. Qualquer um que seja tolo o bastante para ignorar este fato aterrador, e se omita ao reconhecimento enobrecedor que nos qualifica como seres humanos insuficientes, efêmeros, frágeis e falíveis, não compreenderá as palavras intrincadas em Bilhões e Bilhões.

Triste perda. A enfermidade que acometeu sua saúde nos trouxe um vazio intelectual impreenchível. Mas sua memória está eternizada na história do cosmos enquanto a nossa espécie continuar a se desenvolver e evoluir, parcimoniosamente. Pouco conheço das obras literárias produzidas por este nobre pensador. Mas, assumo saber o suficiente para admirar todo seu trabalho, com peculiar afinco e admirável amabilidade que incita a nossa espécie a ser mais gregária no que toca aos assuntos de premência coletiva e global. Grato ao Carl Sagan pelo seu legado racionalístico de valor inestimável.

domingo, 13 de abril de 2014

0 Metade - Oswaldo Montenegro


Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Porque metade de mim é amor e a outra metade também.
— Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 7 de abril de 2014

0 O pior delírio






"E mais uma vez me deparo no canto do meu quarto olhando para porta entre-aberta esperando pela chegada de alguém, qualquer um. Como um bicho sempre me escondi dos meus problemas internos nessa sombra que existe até à noite. Os efeitos dos remédios sempre tiveram êxito mas parece que hoje não aconteceu assim, eu deitei cedo e logo sonhei.
 Sonhei que estava em um quarto bem parecido com o meu mas... tinha pouca luminosidade, a densidade do ar era muito mais pesada, as paredes eram de um tom escuro quase um cinza (quem pintaria um quarto de cinza?) não sei o porque mas me senti muito a vontade nele parecia que eu estava no lugar que eu sempre me enxerguei, mas era bem maior. Andei pelo quarto sem ver o final, esbarrei na cama desarrumada e com lençóis manchados de sangue, cheirava a bebida barata e as paredes mesmo sendo escuras eu conseguia ver a sujeira. Me lembro muito bem de dois espelhos turvos e um quebrado, cheguei a um ponto em que não tinha mais mobilha o quarto se transformara em um corredor bem extenso parecia o filme de terror da minha vida.
 Depois de andar muito mais, não tinha o que perder atrás mesmo. Andei e andei,  em uma parte um pouco mais clara vi um espelho bem grande que cobria quase todo o fundo do quarto ali terminava a jornada, tinha bordas de ouro com pequenos traços pretos de sujeira que denunciavam sua idade mas não sua importância. Olhei bastante pra mim no espelho por mais que a luz estivesse um pouco melhor naquele local não sei o porque, não tinha janelas ali por onde vinha a luz? o reflexo do espelho era escuro, o meu reflexo era conturbado e triste, vi olheiras e cabelo desarrumado, roupa escura e rasgada. Minha expressão de susto refletia como insegurança e medo e a oração do silêncio ecoava tão alto que eu mal ouvia meus próprios gritos.
 De repente vi mais luz, muito mais luz! era o sol nascendo bem no meu rosto. Eu sei que deitei cedo mas não consigo lembrar se dormi."



 - Gustavo Souza

0 Poesia


"Minha poesia são versos, são prosas que meus olhos enxergam através de meu óculos e correm por minhas veias e artérias até meus dedos que gravam tudo em papel. Ó papel não sabes a sorte que tens em poder cuidar e guardar com tinta, em letras muito feias, mas, deveras singelas e verdadeiras sobre o que digo em momento, o que penso, o que sinto e o que quase sempre lamento."

- Gustavo Souza
 

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